Há muitos anos um homem de S. Pedro da Torre, antes de morrer, deixara um bom campo ao seu neto. Era um dos melhores campos da freguesia. Ora o rapaz era muito novo e pouco conhecedor das maldades das pessoas.
Um outro homem tinha também uma leira no mesmo sítio, que fazia vizinhança com o campo do rapaz. Esse homem, com o tempo, ia mudando os marcos do terreno e roubava terra ao moço.
Um dia a alma do avô apareceu ao neto, e perguntou-lhe o que é que o vizinho andava a fazer. E o neto lá disse ao avô o que estava a suceder, que o vizinho lhe roubava todos os anos um pouco de terra, mas que ele tinha receio de o enfrentar, pois não conhecia bem a terra e ainda era novo.
Então o avô agarrou no cabo da enxada e foi ao campo com o tratante. Espetou o cabo da enxada no marco de cima, e mandou o ladrão para o marco do meio, para alinhar até cima meio metro para fora.
- Agora vais para o marco lá de baixo de todo, que eu fico no meio — disse o avô ao ladrão. Agora vê tu quanto roubaste ao meu neto estes anos todos! Agora sabes que mais? Por agora fica assim, para a outra que me fizeres descer cá abaixo eu mato-te!
- Ai isto foi a lavrar que fugiu mais para cima, e lá veio mais um bocado de terra para diante! — Justificou-se o ladrão.
- Pois ficas avisado!
Dali em diante nunca mais o homem passou com o arado pela terra do jovem, temendo que a ameaça do velho avô se cumprisse.