Lenda dos Três Potes Enterrados


Contavam os antigos que, em tempos que lá vão, a população de Sopo andava muito intrigada com uns barulhos lá para a Mata do Carreiro. Os rumores andavam de boca em boca, mas ninguém ousava dizer em voz alta que se tratava de uma moura encantada a arrumar os seus tesouros nas «casinhas dos Mouros». Não era aquele um barulho de metais?

A dado momento, à curiosidade acresceu a ganância. Mas o medo em enfrentar o desconhecido impedia qualquer iniciativa. Certamente que a Moura defenderia com todas as artimanhas o seu fantástico tesouro. E neste impasse permanecia toda a comunidade, até que um rapazote mais afoito, e ainda pouco experimentado na vida, se resolveu em esclarecer o mistério e em tirar dessa aventura o devido prémio. Se o pensou, logo partiu para a Mata do Carreiro disposto a todos os desafios. Conforme se aproximava das «casinhas dos mouros», de onde vinha o ruído, mais este aumentava. Entretanto fez-se silêncio. Confuso, parou a busca, até que ouviu uma voz que lhe disse:

- Vens à procura de um tesouro?

A voz, feminina, colocara-lhe uma questão demasiado simples, mas à qual ele, com o medo, não foi capaz de responder.

- Se vens à conquista de riqueza, tens de procurar o lugar de onde ela vem! Aqui tens três potes enterrados. Um tem ouro, outro veneno, e o outro a guerra. Caso encontres o de ouro, serás rico, mas se abrires o da guerra, sofrereis todos; caso abras o de veneno, todo o vale, suas plantas, animais e pessoas, morrerão! Toma todo o tempo para decidir.

Se antes não respondeu pelo medo, agora ficou mudo de pavor. Diante de si estava a riqueza e a desgraça; uma vida regalada ou a morte daquilo que mais amava. Esperava receber um conselho, uma mera pista, um sinal que o ajudasse a optar por um e a renegar os outros, mas nada lhe era manifestado.

Ali ficou por muito tempo, hesitando entre avançar para a sorte ou fugir à tragédia. Bem queria ele ter uma ajuizada opinião de um amigo ou familiar! Encontrava-se ali sozinho e com um dilema que só ele poderia resolver. Depois de muito pensar olhando para as hospedes, resolveu sentar-se num rochedo comodamente. Assim se encontrava, quando, por breves momentos, levantou a cabeça, deixando estender o olhar pelo vale. Imediatamente se levantou, e, sem mais olhar para trás, regressou a casa.

A partir daquele dia nunca mais se ouviu qualquer barulho lá para os lados da Mata do Carreiro.

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