Em tempos que lá vão, havia aqui um homem muito rico, mesmo muito rico. Ele tinha muitas propriedades, muitas terras..., campos muito grandes. Um certo dia, foi ele trabalhar para o campo maior que tinha, que pegava com o de um amigo seu. Estava ele ali a trabalhar, até que olhou para o campo do amigo mesmo ali ao lado. Foi até à extrema e, não vendo ninguém por perto, roubou uma «malha de grade direita de terra», mudando os marcos de posição.
Fê-lo de tal maneira no segredo, que nem os filhos, nem ninguém alguma vez soube da tramoia.
Até o próprio amigo, proprietário da leira, não deu por nada.
Chegado a um certo tempo o homem adoeceu! Adoeceu.., chamaram-lhe o médico! Apesar de ter vindo o médico e de terem ido com ele para tudo..., ele não teve cura e morreu.
Dali passado tempo, todos os que moravam na sua casa começaram a ouvir uns barulhos. De noite o barulho aumentava pelos telhados. Os vizinhos também começaram a ouvir os barulhos e outras coisas, e foram ter com os filhos:
- Ai vós tende cuidado! Ide ver o que é que se passa!
- Ai nós não vamos nada.
- Ide ver o que é, porque pode ser o vosso pai!
- Ah! Nós não queremos crer em nada disso!
Entretanto adoeceu-lhes uma irmã. Foram com ela para o médico..., para aqui e para ali...Remédios, exames feitos, uma coisa e outra... Não lhe acusava nada! Mas a irmã foi indo, foi indo.., e morreu!
Depois adoece-lhes uma vaca. Morre-lhes também! Até que um dos vizinhos, mais arrojados, foi ter com os filhos do tal homem e disse-lhes:
- Não, tende paciência! Assim não pode ser. Nós temos que ir a algum lado saber do que se passa!
Um dos filhos ainda lhe respondeu:
- Oh! Eu não quero saber nada disso!
- Não, tens de ir saber disso!
Foi tanta a insistência do vizinho, que eles foram saber o que era. Era o pai! Perguntaram-lhe então o que é que de queria. Ao que ele respondeu:
- Não, eu não quero nada, pois eu estou bem e não me falta nada! Há só uma coisa que eu quero. Quero que tu — virando-se para o filho — vás ao campo grande, leves a grade contigo, meças uma malha de grade, e mudes os marcos para o vizinho. Quero que faças isso porque eu roubei essa malha de terra.
O filho ficou surpreendido:
- Mas meu pai, você nunca nos disse nada!
- Mas é assim... Eu já há muito que vos dei sinal! Morreu a tua irmã, morreu a vaca, e era para morrerem todos, porque vós não quisestes saber! Se não fosse o vizinho, que teimou contigo para vires ver... Vá, vai mudar essa malha de terra, porque assim eu não estou bem!
O filho lá carregou a grade e foi para o campo cumprir o mando do pai. O amigo vizinho, dono da leira nem queria acreditar!
- Não pode ser! O teu pai não tirou nada!
Mas o filho não quis saber de mais histórias. Mudou a tal malha de grade de terra que o pai lhe havia dito.
Bem se viu depois que o pai foi para onde tinha que ir, pois nunca mais se ouviu por ali qualquer barulho!