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Os Combates da Travanca


Por toda a parte, e principalmente pelas terras do norte de Portugal, as fidelidades ao soberano português, D. João IV, ou ao espanhol Filipe, andavam muito complicadas desde o ano de 1640. As guerras que se seguiram à restauração do reino português, se apaixonavam a maior parte no desejo pátrio de defender a independência, perdida anteriormente, também serviam para denunciar os traidores.

O soberano espanhol não se deu por vencido com a morte do seu representante em Lisboa, reivindicando o direito à coroa portuguesa, que o Duque de Bragança lhe negava. Restaurado o reino, havia agora que prover a sobrevivência do mesmo como estado livre, resistindo às investidas daqueles que julgavam encontrar ainda apoio do lado de cá da fronteira. Neste desígnio se aventuravam os espanhóis por terras lusitanas, em fortes incursões, ora procurando apoio para as suas pretensões, ora cercando praças-fortes que não renegavam o amor pátrio à Casa de Bragança.

Corria o ano de 1662, e mais uma vez o temível inimigo da independência lusa penetrava em solo pátrio. No dia 9 de Agosto, vésperas do dia de S. Lourenço, encontrava-se já o exército castelhano pronto a atacar a Praça de Paredes de Coura. Como já a noite estava a cair, resolveram os chefes desse exército acampar nas proximidades, preparando-se para o ataque definitivo do dia seguinte.

Noite feita, estranharam os espanhóis o que estavam a ver lá para os lados da Cerdeira, na freguesia de Cunha! Aquilo não podia ser verdade, pois durante o dia não tinham visto grande movimento! Os soldados segredavam entre si, enquanto os chefes reuniram de emergência. Lá ao longe, naquela encosta do monte, as luzes e o movimento eram tão grandes que a todos assustava. Como é que era possível existir ali um exército português tão numeroso? O temor e a insegurança começaram a alastrar pelas hostes castelhanas. E se os chefes chamavam à ordem e à coragem para o dia seguinte, o certo é que os soldados ficaram tolhidos de medo e sem atenção para qualquer comando!

Quando amanheceu, era tão grande a desordem e a confusão no campo castelhano, que os militares portugueses viram logo uma oportunidade de levar de vencida a luta que estava prometida da véspera. Saíram das fortificações gritando o nome de Portugal com tal força e coragem, que os soldados inimigos só tiveram tempo para se porem em fuga, largando para trás muito das suas pertenças. Não satisfeitos com a vitória na batalha, os soldados lusos perseguiram até à margem do Minho os fugitivos, que tão cedo não esqueceriam tamanha derrota.

Uma coisa, ao princípio, foi difícil de entender para os portugueses. Porque é que o inimigo se mostrou tão desorganizado e temeroso, quando o seu número em muito ultrapassava o das tropas portuguesas? Foi então que um jovem, que naquela noite tinha ficado de guarda, contou o que também ele vira lá para os lados da capela de S. Lourenço da Cerdeira: as manadas de vacas que por ali andam durante o dia e a noite tinham, por grande milagre, as hastes iluminadas! Logo compreenderam a confusão dos espanhóis que, por estarem mais longe, não distinguiram a figura dos animais!

Então alguém recordou que aquela tinha sido a noite da véspera da festa de S. Lourenço, que se celebrava nesse dia 10 de Agosto! O povo viu no milagroso acontecimento a proteção de S. Lourenço, que assim quis juntar à sua festa a vitória dos portugueses, a que deram o nome de «Combates da Travanca».

A partir daquela data, para agradecer ao Santo Protetor, o feriado municipal passou a ser o dia 10 de Agosto, com grandes solenidades na Capela de S. Lourenço, na freguesia de Cunha.

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